domingo, 9 de agosto de 2009

Microparticulas com nanoporos inteligentes para combate do cancro pulmão desenvolvidas em Portugal


© TV Ciência
Partículas inteligentes para transporte por inalação de fármacos terapêuticos para o cancro do pulmão estão a ser desenvolvidas em Portugal. O objectivo é produzir nanoparticulas porosas revestidas por polímeros capazes de reconhecer e libertar medicamentos apenas nas células cancerígenas do pulmão e proteger as células saudáveis.
Esta é uma membrana produzida com estruturas porosas e que permite exemplificar o objectivo de Márcio Temtem, ou seja, revolucionar a administração de medicamentos através de nanopartículas.

Márcio é investigador do Departamento de Química, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade Nova de Lisboa e propõem-se desenvolver partículas de baixa densidade à escala nano, revestidas com polímeros inteligentes que funcionem como meio de transporte de medicamentos até aos pulmões

«Quando uma pessoa, depois no organismo através de um inalador toma as partículas, o que acontece é que elas são depositadas no interior do pulmão, pelo facto de apresentarem uma baixa densidade, é possível colocá-las eficientemente dentro do pulmão e pelo facto de elas terem estes polímeros inteligentes, estes serem capazes de sentir a zona do pulmão com um pH mais baixo ou mais sensível à temperatura e, mais especificamente, nessa zona libertar os fármacos que nós pretendemos», afirma Márcio Temtem, Investigador, Prémio Estímulo à Investigação, FCG.

O investigador está a trabalhar no desenvolvimento de nanopartículas. Mas por enquanto o processo de produção, é a uma escala macro e ao nível de uma membrana.

Para a produção da membrana o cientista utiliza um polímero dissolvido em água, ao qual junta anéis de reschig que vão funcionar como dispersantes de CO2.

O polímero introduzido na célula de alta pressão, é de seguida colocado num banho a 60 graus Celsius e 200 bares de pressão o que vai permitir produzir na membrana a morfologia adequada, ou seja, um conceito que ao ser transposto mais tarde para as nanopartículas permitirá obter a baixa densidade desejada.

Com esta técnica, os cientistas fazem transportar o CO2 num caudal contínuo pelo banho, que entra dentro da célula onde vai provocar a precipitação do polímero e a formação da estrutura porosa.

Esta é uma técnica de produção que pode substituir os solventes normalmente utilizados e dar resposta a uma das preocupações deste laboratório de química verde.

«Aquilo que nós queremos é substituir alguns destes solventes, alguns desses passos de produção por tecnologias mais amigas do ambiente. Aquilo que nós utilizamos são os chamados ‘fluidos super críticos’, que são gases sobre alta pressão que conseguem funcionar como solventes, não só para produzir as partículas como para sintetizar os polímeros dentro dos nanoporos. Mas, pelo facto de serem gases, no fim conseguimos, simplesmente por dispressurização remove-los sem deixar qualquer contaminante no interior dessas estruturas», explica Márcio Temtem, Investigador, Prémio Estímulo à Investigação, FCG.

O cientista junta os pedaços da membrana, o monómoro que ao repetir-se dá origem ao polímero e um iniciador para activar a reacção de polimerização.

A mistura é depois colocada num novo banho a 65º e 246 bares de pressão, e submetida a CO2 supercritico.

O CO2 vai dissolver o monómoro e o iniciador transportá-lo para dentro das estruturas porosas onde se cria o polímero inteligente.

Um polímero que submerso num tanque de água quente, passa de uma estrutura hidrofílica para uma hidrofóbica.
É esta a chave do funcionamento dos polímeros que transportam o medicamento.

O mesmo acontecerá dentro nos pulmões, perante células tumorais que a uma temperatura superior às saudáveis o polímero interage de modo hidrofóbico expelindo a água e com esta o medicamento.

Pelo contrário nas células saudáveis, menos quentes, a interacção do polímero é hidrofilica impedindo a libertação da água. Mas para além da temperatura, os polímeros inteligentes poderão ser capazes de reconhecer o pH.

«Existem polímeros inteligentes, capazes de sentir pequenas alterações no nosso microorganismo. Por exemplo, um pH na zona de um tumor é ligeiramente mais baixo do que na zona do tecido saudável. Esta diferença pode ser o suficiente para estimular um polímero a libertar um determinado fármaco, uma determinada droga naquele local específico. No caso da temperatura acontece algo semelhante, pelo facto das zonas do tumor, ter a zona vascular mais destruída, são mais sensíveis às mudanças de temperatura e são estes tipos de estímulos que podem ser utilizados para localizar ou acentuar mais uma determinada zona e libertação de determinadas drogas», refere Márcio Temtem, Investigador, Prémio Estímulo à Investigação, FCG.

O projecto científico de Márcio Temtem que está agora no início recebe o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian com o Prémio Estímulo à Investigação.

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